Pelo Dia fora e pela noite dentro

sábado, 20 de junho de 2009

Memórias tomarenses de... Rui Salvador




É uma das caras nabantinas mais conhecidas pelo público. Rui Salvador nasceu em Lisboa, mas apresenta-se sempre como o “toureiro de Tomar”. No ano em que comemora o 25º aniversário de alternativa na arte de tourear, leva-nos a uma viagem pelas memórias e emoções que esta região sempre lhe proporcionou.

“Tomar é uma cidade linda, diferente de tudo que já conheci”, diz o homem habituado a viver na capital e a muitas cidades do mundo, que o viram actuar na arena em batalhas taurinas. Rui Salvador nasceu no Alto do Pina, em Lisboa, tem 44 anos, e é com esta idade que chega ao grande objectivo que determinou na sua carreira: atingir os 25 anos de alternativa. Um quarto de vida passado como toureiro profissional.
Pedimos-lhe que nos leve ao seu local favorito na cidade. Encontramo-nos na Ermida de Nossa Senhora da Piedade, uma pequena capela do século XIV. É um local de introspecção pessoal e de devoção familiar. Todos os Salvadores sentem-se atraídos por este lugar de culto, situado no topo da encosta, por cima de mais de trezentos degraus. Rui Salvador confessa que nunca os subiu, nem “nunca prometi”. E porquê? “Tenho medo de prometer uma coisa e depois não conseguir. Estou cada vez mais coxo”, diz no meio de risos bem dispostos. Depois, mais a sério, explica: “Estamos num local que me diz muito, sinto que preciso de cá vir muitas vezes. É um espaço de oração, com uma paisagem maravilhosa e onde me sinto bem. Desde pequeno que tenho um carinho especial por este lugar, assim como toda a família”.
Desde os tempos de menino, Rui Salvador vem pouco à cidade. As férias e fins-de-semana, há alguns anos atrás, eram passados na Quinta do Falcão, onde ainda hoje lida com os animais e passa todo o tempo que pode. “Da minha infância recordo-me dos passeios a cavalo com a minha família. Lembro-me que tudo era vivido intensamente, sentia muita ansiedade antes de cada fim-de-semana e adorava fazer corridas com a minha irmã pelo meio dos pomares. E lembro-me bem de vir com toda a família à Nossa Senhora da Piedade. Não sei explicar a origem desta devoção familiar, mas posso dizer-lhe que até os meus filhos já falam em vir aqui”.
Estudou em Lisboa, formou-se em arquitectura e é na capital que exerce a profissão e mantém a empresa de construção familiar. Mas o coração mantém-se na região templária – “Ando sempre cá e lá. Faço mais de 50 mil quilómetros por ano”.
Ainda se recorda do entusiasmo que o acompanhava quando, ainda criança e adolescente, viajava para Tomar. Foi aqui que se apaixonou pelos cavalos e, mais tarde, pelo toureio. “Gosto imenso de Tomar. Às vezes, fico envergonhado por me falarem de alguns locais que não conheço ou de que sei pouco e que supostamente deveria conhecer melhor”. O mesmo acontece com a gastronomia e doçaria tomarense – “Só há pouco tempo percebi que as Fatias de Tomar não são feitas com pão. Foi uma vergonha, porque fiz essa descoberta através de uma pessoa que vive para os lados de Castelo Branco”, ri, “até me perguntou se eu era mesmo de Tomar…”
Há outro local com que Rui Salvador mantém uma forte ligação – a Praça de Touros de Tomar. Hoje o local é gerido pela família, depois de terem investido na sua reabilitação e recuperação. Foi uma “herança” deixada pelo pai, que Rui mantém com “muito carinho”.
O rio Nabão é outro dos lugares “amados” por Rui Salvador em Tomar. Gosta de o observar, assim como a evolução da cidade. “Noto um grande desenvolvimento. Há sempre qualquer coisa nova. Como venho cá pouco, vejo sempre coisas diferentes e acho que Tomar está mais bonita”.
Quando lhe pedimos para definir a cidade, Rui Salvador confessa que “Tomar tem características únicas. Não conheço nenhuma cidade como esta. Mas o povo é fechado, conservador e muito crítico”.


A geração “Pim-Pim”

A idade não perdoa. É o que dizem. Rui Salvador não sabe se é essa (a idade) a razão para não vir hoje às noites tomarenses, mas recorda outros anos, quando era mais novo, em que foi um cliente assíduo. Recorda, em particular, as noites do “Pim-Pim”, uma discoteca que se situava na cidade e que, durante vários, atraiu os jovens da região e do país. “Lembro-me que muitas pessoas em Lisboa falavam do Pim-Pim e vinham de propósito à discoteca. Eu divertia-me imenso. Passámos noites giríssimas. Embora sentisse que as pessoas de Tomar não simpatizavam muito comigo. Acho que era por ser muito tímido… e as pessoas deviam achar que eu era antipático”.
Apesar de ter sentido, desde sempre, algum distanciamento dos tomarenses em relação à sua carreira taurina, Rui Salvador prepara-se para receber uma homenagem da autarquia local, pelos 25 anos de alternativa. O que vai acontecer ainda continua envolto em mistério, mas Rui Salvador mostra-se feliz por finalmente ser reconhecido pelos tomarenses. Afinal, ele próprio assume Tomar como a sua cidade.

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